Discipulado – Um projeto para a vida.
14 – Discípulo, um embaixador.
A Bíblia chama cada crente em Jesus de embaixador em nome de Cristo. Mas antes de estudarmos mais profundamente quais as atribuições de um embaixador, é necessário que saibamos quem ele é. O dicionário define a palavra como “aquele que pertence à categoria mais alta na representação diplomática de um país junto a outro” (Aurélio).
1 – Uma posição especial
Observamos, a seguir, os significados da palavra embaixador nas diversas vezes em que aparece na Antiguidade, no Antigo e no Novo Testamentos.
1.1 – No mundo antigo a palavra que dá origem ao termo embaixador trazia um significado importante: ‘mais velho’, no superlativo ‘o mais velho’. Eles entendiam que a sabedoria derivada da idade era considerada um requisito necessário. A preeminência que acompanha a idade mais avançada levava não somente a uma função representativa no estrangeiro como também à função dentro da comunidade política de conselho.
1.2 – Na versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta), a palavra embaixador vem da raiz presb, e tem duas áreas principais de significado: bárbaro, alguém que atingiu a maioridade legal; depois ancião, e tem o significado de ‘o mais velho em anos’ (um exemplo é o sacerdote Eli – 1Sm 2.22). A segunda área relevante no mundo antigo é que embaixador significa: negociador, embaixador, porta-voz, (Nm 21.21-22; 22.5; Dt 2.26).
1.3 – No Novo Testamento, aparece a palavra embaixada nas parábolas (Lc 14.32; 19.14), no sentido de uma delegação política, uma missão diplomática. 2Coríntios 5.20 expressa a natureza oficial da mensagem de reconciliação que o embaixador traz “somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio”.
Se a característica básica ou essencial de um embaixador, mediante o que vimos estudando no mundo antigo, é ser velho, como que jovens de 17 a 25 ou 30 anos podem ser embaixadores em nome de Cristo?
A resposta se encontra no personagem bíblico que Paulo chama de filho. Estamos falando de Timóteo. Este, sendo jovem, já tinha a grande responsabilidade de dirigir a igreja de Deus em Éfeso; de exercer liderança; e de trazer a mensagem de reconciliação, exortação e prevenção (1Tm 4.1-16). O versículo 12 mostra a simples solução para este grande problema: “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (NVI).
Com estas palavras, Paulo dá as instruções necessárias e primordiais para que o jovem Timóteo sobressaia em sua posição importante de liderar o povo: “Ninguém trate com desprezo a tua mocidade”. J.N.D Kelly comenta: “Para contrabalançar a desvantagem da mocidade, Timóteo é convidado a tornar-se padrão dos fiéis”. (I e II Timóteo e Tito). A palavra grega para Padrão é “typos”, que significa: exemplo, modelo, protótipo, marca, imagem, molde.
Para que os jovens se tornem padrão de todos os crentes é importante que notemos as cinco esferas apresentadas por Paulo.
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Na palavra – é exatamente o modo como o jovem fala que está em questão, e não as Escrituras (1Tm 4.13 – “a exortação, ao ensino”). Aqui é condenada a conversa corrupta, que não edifica.
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No processo – que significa estilo de vida, conduta, comportamento. Champlin diz: “A maneira de viver ideal é conseguida quando nos tornamos mais parecidos com o Senhor Jesus, compartilhando Suas virtudes, com amor, a pureza, a santidade e os vários aspectos do fruto do Espírito (Gl 5.22-23), o que é obtido através do desenvolvimento espiritual, mediante a orientação dada pelo Espírito de Deus”.
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No amor – ágape: amor; afeição; estima; a mais sublime virtude cristã; a caridade fraterna no pleno sentido cristão (1Co 13.1-2).
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Na fé – podemos entender dois sentidos. O primeiro sentido é o objetivo: no sentido doutrinário, devo conhecer minha fé no Deus em que creio. O segundo sentido é o subjetivo: confiança que parte da alma. Crer em Deus (Jo 3.36; 5.24).
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Na pureza – aqui o sentido é abrangente, não somente a castidade em questão de sexo, como também a inocência e a integridade de coração. Pureza de mente e de atitude (2Co 6.6).
Quando o jovem se torna modelo, exemplo em grande parte dos aspectos de sua vida, no interior e exterior, então poderá ser também considerado embaixador em nome de Cristo.
2 – Uma missão essencial
Agora que já descobrimos que ser embaixador em nome de Cristo é um privilégio dos jovens também, consideramos as suas principais tarefas, que é uma verdadeira missão.
2.1 – Um embaixador é um construtor de pontes
A missão essencial dos embaixadores em nome de Cristo é a construção de pontes do reino celestial para este mundo terrestre, o contexto de 2Coríntios 5.20 é o da reconciliação. Paulo, apóstolo, nos mostra o ministério de Cristo reconciliando o
mundo a Deus; Cristo Se fez pecado para que a justiça de Deus fosse saciada (2Co 5.21); Jesus, na cruz, mostrou Seu imenso amor por nós (Jo 3.16) “tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.8), e todo o sofrimento de Jesus na cruz do calvário foi para que nos reconciliássemos com Deus.
Ser um embaixador é levar esta mensagem, ‘a mensagem da reconciliação’. Construir pontes do reino celestial para este mundo se faz com a mensagem reconciliadora de Cristo, e é um privilégio que foi confiado a Seus embaixadores.
Champlin no diz: “Em sentido espiritual, deve o embaixador levar cada homem a compreender sua necessidade da benevolência daquele que o enviou, e, portanto, se reconciliar com ele. Portanto serão contados como inimigo enquanto essa reconciliação não for efetuada” (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol.1, p.349).
2.2 – Um embaixador é um representante
É dado ao embaixador a comissão de representar aquele que o envia. Se somos embaixadores em nome de Cristo, nossa responsabilidade é de grande importância, pois estamos representando o “Senhor dos Exércitos”, e devemos refletir nosso Soberano Senhor através de nossa conduta. Portanto, devemos tomar cuidado para que não lancemos luz adversa sobre o caráter dAquele que nos enviou – Deus (Ef 4.17-24; 5.1-2; Fp 4.8-9). Paulo ensina claramente: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
Compete ao embaixador manter os elevados padrões de conduta daquele que o tem enviado. O jovem embaixador cristão deve ser uma pessoa distinta, respeitosa, e deve permanecer desta forma.
2.3 – Um embaixador é um conciliador
O embaixador cristão deve ter a habilidade de conciliar, e não de causar contendas. Qualquer pessoa imbuída desse encargo deve possuir espírito diplomático, pois exerce a função de diplomata. Deve ser habilidoso para levar aos homens a mensagem daquele que o enviou. Não deve ser uma pessoa fria, insensível e ofensiva, atitudes que causam muito mais contendas do que conciliam. A Bíblia está repleta de texto neste sentido (1Co 7.25; 1Ts 5.13b). “Aparta-te do mal e pratica o que é bom, procura a paz e empenha-te por alcançá-la… se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Sl 34.14; Rm 12.18).
2.4 – Um embaixador é caracterizado pelo amor
Amor, altruísmo (aquele que coloca o interesse de outro acima do seu), paciência, devem ser marcas do embaixador, pois sofrerá afrontas, perseguição na pregação do evangelho e encontrará muitos inimigos espirituais. Portanto, devemos olhar para Jesus, aprender Dele amor, paciência, perseverança; e buscar no fruto do Espírito a condição ideal para viver (Gl 5.22-23).
Conclusão
A nossa elevada posição de embaixadores em nome de Cristo não deve ser motivo de vanglória pessoal (Gl 5.26), e nem de menosprezo para com o mundo perdido e condenado, mas devemos entender a sublime responsabilidade que pesa sobre nós: ser representante de Deus neste mundo é um grande privilégio e também uma imensa responsabilidade. Por fim, devemos nos alegrar, pois o Deus Criador do céu e da terra, Todo-poderoso, nos escolheu para este fim. Portanto, honremos nossa privilegiada posição com temor e tremor.