Discipulado – Um projeto para a vida.
16 – O Mestre e o discípulo.
Ao encerrarmos esta série de lições sobre o discipulado cristão, relembramos o tão conhecido encontro entre Jesus e Pedro. Na verdade, trata-se de um reencontro entre o Mestre e o discípulo. Os detalhes do diálogo servem de princípios para a prática do discipulado.
1 – Discipular é ensinar a obedecer
Pedro precisava aprender a obedecer. Ele falava em obedecer (Mt 26.33-35), mas ainda tinha muito que aprender (Mt 26.69-75).
Discipular é mais que ensinar. Poderíamos dizer que discipular é “ensinar a guardar” (Mt 28.18-20). Em que sentido “ensinar a guardar” é mais do que “ensinar”?
“Ensinar a guardar” é o mesmo que “ensinar a obedecer”. Ensinar a obediência. Em 2Timótio 3.16 lemos que a Escritura é útil para:
-
Ensinar – transmitir conhecimento – por exemplo: “Fale a verdade”;
-
Repreender – denunciar o desvio: “Atenção, você está mentindo agora”;
-
Corrigir – promover a restauração: “Agora, você precisa arrepender-se diante de Deus, confessar seu pecado a Ele e restaurar a verdade com seu próximo”;
-
Instituição na Justiça – formar novo valor de carácter na área – se todo esse processo (ensino, repreensão e correção bíblicas) resultar em novo padrão de carácter, novo estilo de vida, novo compromisso com a verdade, podemos dizer que o “aluno de Bíblia” é um “discípulo de Cristo”. Assim, estaremos “fazendo discípulos”, mais do que ensinando a Bíblia. Estaremos “ensinando a obedecer”, mais do que transmitindo conhecimento teológico.
A escritura é poderosa e eficaz para nos ensinar a obedecer a Deus. Pedro aprendeu que precisava guardar as palavras de seu Mestre, que são as mesmas que temos no Novo Testamento.
2 – Discipular é estar presente (Jo 21.1-5)
Jesus “tornou a manifestar-se”, Se fez presente num momento informal e significativo ao ofício do discípulo (“ao clarear da madrugada” – v.4); dentro do contexto profissional em questão – a praia.
Assim é o discipulado. Aquele que é mais experiente na fé tem de estar disposto a acompanhar alguém menos experiência (1Co 4.16; 11.1; Ef 5.1; Fp 3.17; 1Ts 1.6; 2.14; Hb 6.12), a fim de servir de “molde” para um “novo caráter”.
Pedro estava identificando um caráter comprometido: estava pensando em “olhar para trás” (v.3 – “vou pescar”). Estava avaliando a possibilidade de voltar às redes que havia abandonado para tornar-se um “pescador de homens”. Aí é que um ex-carpinteiro aparece para influenciar um ex-pescador a desistir da ideia do antigo ofício para abraçar de vez o ministério do discipulado.
Pessoas com faróis virados para trás são doentes. Para trás, apenas retrovisores são suficientes. Pessoas “presas ao passado” – crentes e não crentes – precisam de discipuladores que se façam presentes e os orientem, a fim de fazê-los olhar para frente (Fp 3.12-14).
Se você não tem tempo para aparecer (“frequentar a praia”) e se aproximar dos seus discípulos, é melhor repensar seu próprio discipulado. Note a insistência com que este discipulador-mestre aparece (v.14).
3 – Discipular é crer (Jo 21.6-14)
Toda vez que um bom discipulador se dedica a um discípulo, os céus se alinham à terra e as coisas hão de acontecer (Mt 16.19).
Quem é discípulo de Jesus sempre tem algo a oferecer em termos de ensino. Quem, de fato, anda com Cristo tem conteúdo. O discipulador anda com o Mestre dos mestres. Tem algo a dizer, tem testemunho a dar, não dele mesmo, mas daquele que o magnetizou com Seu poder.
Paremos um instante e leiamos João 4.39. Por que os samaritanos creram? Poderíamos dizer: porque constataram sinais e perceberam o poder de Jesus, através da mulher com quem Ele conversou. Ela era a testemunha viva, através de seu depoimento do poder do Senhor. Ele (Jesus) e ela (a mulher) foram um espelho do poder de Deus. Isto é discipulado, e para discipular é preciso “experimentar e crer” no poder que Jesus tem de mudar as pessoas.
Se você não acredita que alguém pode ser uma pessoa como João Batista, José do Egito, Daniel, Ester ou Rute, então não vá discipular. Se você exprime sinais do caráter de Cristo, vá e discipule alguém, em nome de Jesus. Se não há sinais do caráter de Cristo em seu caráter, não tente exercer este papel. Questione, primeiro, sua relação com o Senhor e veja se não é você a pessoa que está precisando ser discipulado.
4 – Discipular é falar a verdade em amor (Jo 21.15-17)
Este diálogo entre Jesus e Pedro é bastante conhecido, por isso podemos ir direto ao assunto. Jesus estava fazendo com que o “amor”, o elo fundamental entre discípulo e seu Mestre, entrasse em ação novamente.
É difícil imaginar que Pedro fosse fingir o suficiente para continuar agindo como o falastrão de sempre. Ele havia negado a Jesus recentemente, depois de ter sido claramente advertido. Do rescaldo dessa conversa terrível entre um discipulador sábio, amoroso, porém honesto e verdadeiro, surgiu um discípulo humilde e poderoso. Assim nasce um discípulo: da aplicação bem temperada da verdade e do amor (Pv 16.6).
O discipulador precisa ter autoridade para tocar na ferida. Veja os seguintes exemplos e observe que Jesus tratou sobre o último assunto que cada um dos seus interlocutores queria conversar.
1 – Com Nicodemos Jesus tratou sobre o conteúdo, não forma da salvação (Jo 3.3-5);
2 – Com a mulher samaritana o Mestre abordou a sua vida conjugal (Jo 4.16);
3 – Com o rapaz Jesus atingiu seu ponto fraco: o dinheiro (Mt 19.21-22).
Só Deus sabe tocar na ferida com amor; só Ele é capaz de distinguir entre o ser humano e seus atos: odiar o pecado e amor o pecador. O discípulo de Jesus pode, pelo menos, tentar imitá-Lo.
5 – Discipular é lançar alguém para o futuro (Jo 21.18-24)
O discipulador (modelado em Jesus) lança o discípulo ao futuro com honestidade em relação ao custo do discipulado e com fé. O discípulo em questão – Pedro – haveria de “glorificar” a Deus (v.19).
Sabemos quem é Billy Graham, mas quem lançou ao ministério? Sabemos quem foi Spurgeon, mas quem o discipulou? Sabemos quem são os ícones do evangelho genuíno hoje, mas quem cuidou deles quando estavam prestes a “olhar pra trás”?
Quem apareceu na hora do perigo? Quem creu? Quem falou a verdade em amor e quem os lançou impondo sobre eles as mãos? Estes, normalmente, a gente não conhece, mas Jesus conhece e não deixará sem galardão.
Envolvimento pessoal é uma chave preciosa no processo de fazer discípulos. Percebemos neste reencontro de Jesus com Pedro que o verdadeiro discipulado não nos permite ficar apenas na superfície. Por isso é que muitos evitam o discipulado, porque envolve custo, gasto. Todavia, os resultados são compensadores. Quem foi Pedro? Alguém que recebeu de Jesus as chaves do reino dos céus (Mt 16.18-19). E você ainda acha isso pouco?
Conclusão
Comparando João 21.25 com Atos 1.1 concluímos que os discípulos cumpriram a profecia de Jesus em João 14.12 – o discípulo, em certo sentido, faz obras maiores do que o discipulador. Há mais conversões registradas em Atos do que em João. Os discípulos, bem instruídos ultrapassam seus mestres.