Discipulado – Um projeto para a vida
10 – Discípulo, um peregrino.
John Bunyan (1628-1688), ministro e escritor inglês, passou doze anos encarcerado. Enquanto estava na prisão Bunyan passava o tempo no estudo da palavra de Deus e a escrever. Produziu quase sessenta livros e tratados sobre assuntos religiosos. Seu mais famoso livro escrito na prisão, “O Peregrino”, foi um “best seller” com larga circulação em diversos idiomas. Nele Bunyan retrata o crente como um peregrino, retratando sua identidade, desafios e esperanças.
Esta apostila não é um resumo de todas as ideias propostas por Bunyan, até porque iremos considerar coisas que não estão no livro citado, mas faremos menção de alguns momentos desta famosa alegoria.
1 – A identidade do peregrino
- O que a palavra peregrino lhe traz à memória?
- O hino que diz: “Peregrino por sobre os montes, dentro dos vales sempre na luz”?
- Os judeus quando subiam, peregrinando e cantando, indo ao templo do Senhor em Jerusalém para tomar parte nas festas religiosas? (Salmos 120 a 134, “Cânticos de romagem”)
- O herói do filme que, após terminar a aventura, volta a peregrinar na estrada, pedindo carona, para viver outra aventura no próximo episódio?
- Que é um peregrino?
- Do latim peregrinus, o peregrino é o que viaja ao estrangeiro, que vem do estrangeiro. Na Roma antiga, o termo era usado para aquele que não era cidadão romano, mas um estranho, um viajante.
- Champlin diz que “um peregrino é alguém que habita no meio de um povo, em contraste com o estrangeiro, cuja permanência é temporária”.
- O peregrino é alguém que está “passando por”, ainda que esta passagem possa durar longos anos.
- No Antigo Testamento, o peregrino é aquele que anda por terra estrangeira (sentido físico, material) (Gn 15.13; Êx 2.22; Sl 119.19). Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos que o peregrino é figura do salvo, cuja a pátria é o céu, no sentido espiritual (Ef 2.19; Fp 3.20; 1Pe 2.11). O autor aos Hebreus relembra que Abraão viveu como peregrino no Terra Prometida, sendo que, pela fé, era cidadão da cidade celestial (Hb 11.9-10).
2 – Os desafios do peregrino (“Portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação.” 1Pedro 1.17)
Um discípulo peregrino carrega o fardo de Cristo. O próprio Senhor disse “tomai sobre vós o meu jugo” (Mt 11.29). Na antiga construção naval, o jugo era cada uma das vigas transversais que sustentavam a ponte dum navio. Uma boa maneira de entender o jugo é mencionado a canga, aquela “peça de madeira que une uma junta de bois para o trabalho; ou o pau que assenta nos ombros de dois carregadores para suspender o objeto que eles transportam” (Dic. Aurélio). No sentido da vida cristã, o jugo é um símbolo de obrigação e de sujeição do cristão a seu Senhor.
Alguns dos desafios que o peregrino enfrenta são:
- Incompreensão da família
Não confunda um discípulo peregrino com um jovem aventureiro e inconsequente que sai de casa “sem lenço nem documento” e sem saber aonde vai. A família de Jesus não entendeu Sua missão (Mt 12.46-50). E noutro texto Jesus falou sobre a atitude do discípulo em relação à sua família (Lc 9.59-61). Mas aqui não se trata de desobediência aos pais, e sim de prioridade ao reino de Deus. Sua família sabe que “os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12), por isso querem poupar você das incompreensões e perseguições do mundo. Entretanto, “se alguém vem a mim e não aborrece (isto é, ama menos) a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26).
- Porta estreita e caminho apertado
É desanimador viajar por um caminho desconfortável. Estradas com buracos, inseguras e estreitas não dão agilidade ao motorista. Jesus disse que o cristão tem que passar por uma porta estreita e transitar num caminho apertado (Mt 7.13-14). E isto não é fácil, nem convidativo. Eis o motivo porque “são poucos os que entram por ele.” No livro de Bunyan, várias pessoas tentam convencer o cristão a deixar o Caminho. Com você não será diferente. Mas lembre-se: o caminho fácil é o que conduz à morte.
- As paixões carnais
Eis o convite do apóstolo Pedro: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1Pe 2.11). Se ficarmos tão presos às nossas paixões carnais, nos desviaremos do Caminho. Paulo revela, em 1Coríntios 9.27, toda a sua estratégia para vencer estas paixões: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.”
- Procedimento exemplar
Novamente Pedro nos convida: “mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores,
observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pe 2.12). O fato de não pertencermos a este mundo não nos autoriza a ser os mais relaxados desta Terra. São muitos os que se dizem discípulos de Jesus e são péssimos empregados, patrões, alunos etc. Pedro nos adverte que o nosso procedimento deve ser exemplo aos demais. Indo mais além, diz que por nossas ações, as pessoas irão glorificar a Deus.
- Você, como discípulo de Jesus, é alguém que pode ser imitado como filho, como aluno, como profissional, como ovelha, como servo e como amigo?
- Se todas as pessoas de sua igreja fossem como você, como essa igreja seria? Suas ações refletem que você é alguém que segue os passos do mestre? Saber qual é a nossa pátria nos deve fazer viver de modo a que a honremos.
3 – As esperanças do peregrino
No livro “O Peregrino”, o cristão entra pelo portão da cidade celestial e ouve: “Entre no gozo do seu Senhor”. Certa vez um pregador afirmou que se você não tiver bem firme em sua consciência que recompensa irá obter, jamais terá disposição para qualquer sacrifício ou renúncia. Pensando nisso, duas coisas devem estar presente em sua mente de discípulo peregrino.
- A certeza da eternidade
O discípulo peregrino leva em sua “bagagem” a certeza da vida eterna. Ele sabe que poderá viver 100 ano sobre a Terra, mas para sempre na eternidade.
Passaremos muito mais tempo do outro lado da morte – na eternidade – do que aqui. Você tem consciência de que seu tempo na Terra é um “parêntese na eternidade”? Que você foi criado para ser eterno? Está escrito em Eclesiastes 3.11 que Deus colocou no coração do homem eternidade. Essa vida aqui na Terra é um ensaio geral do que vamos desfrutar no futuro celestial. A Terra é um lugar de preparação.
- A convicção que a vida na Terra determinará sua vida na eternidade
Isso está bem assentado no coração do discípulo peregrino. Ele sabe que quer! E você, sabe?
Se você foi aquele que aprendeu a amar Jesus, o Filho de Deus, e Nele confiou, certamente será convidado a passar a eternidade com Ele. Entretanto, aquele que despreza o amor, o perdão e a salvação que Ele ofereceu, passará a eternidade separado de Deus.
Conclusão
Certo missionário, após vários anos de dedicação na obra de Deus, retornou a seu país ficando muito frustrado quando percebeu que ninguém o esperava no aeroporto com faixas, cartazes, festas e muita alegria, até que a sua esposa sabiamente lhe recordou da mais pura verdade: “Não se entristeça, pois aqui não é a sua pátria e, sim, lá no céu. Lá você será recompensado.”
Da mesma forma, essa deve ser a nossa certeza. Em João 17.14-16 Jesus, orando, diz que assim como Ele nós também não somos deste mundo. Temos a certeza do nosso lar celestial e estamos aqui apenas de passagem. Por isso, não podemos nos apegar às coisas deste mundo, esquecendo de nossa pátria celestial. Que nossa conduta mostre sempre de onde somos e para onde vamos.